terça-feira, março 28, 2006

Neste momento

Tenho 45 anos.
Quem vê por fora diz que pareço menos; quem vê por dentro diz o mesmo. A mim parecem-me 145.
Tem tudo a ver com desencanto. Com sentir um nada-de-novo constante, um dèjá vu permanente. Há bastante tempo que ando em círculos, uma espiral que nem desce nem sobe.
Não estou a mandar as culpas para o mundo; ele tem costas largas mas não me serve de nada carregá-lo, culpando-o pelo meu estado semi-vegetativo. De facto, de fora não tem vindo nada de original, nem ideias nem pessoas nem pessoas com ideias mas isto não me dá o direito de culpá-las por ser assim. Quem me diz a mim que não serei eu que cheguei ao meu limite, que não sou capaz de ver mais?
De qualquer forma esta é uma dúvida que não me atormenta. É indiferente. O que sei, o que acuso em mim, é talvez ter vivido depressa demais, intensamente, a 200 à hora quer quando me virava para fora quer interiormente e ter chegado agora a um ponto em que seria suposto eu morrer. Pois se o que me resta é circular novamente, num giro que me trás sempre onde estava… o que falta mais? Para mim, nada.
E não, não me sinto depressivo nem nada que se pareça; pelo contrário, a ideia de morrer traz-me uma paz, a tranquilidade que se sente quando nos deitamos cansados e o sono começa a chegar.
E também não, não acredito em vida depois da morte. Sou um descrente profissional. Para mim, a vida só faz sentido havendo morte e esta terá de ser “a sério”, terá de ser um ponto final numa existência. E isto… atrai-me tanto!
Assim sendo, se não fosse qualquer coisa muito especial de que falarei à frente, restar-me-iam duas alternativas: que o meu corpo tivesse acompanhado a estagnação da minha mente – o que não aconteceu uma vez que tenho saúde de ferro – ou o suicídio. E esta é outra ideia que me agrada sobremaneira. Que me atrai, que me fascina! Não tem volta, é certo, mas eu não quero voltar!
Voltar para quê? Para um emprego de que não gosto? Para a constante luta pela sobrevivência? Pelo confortozinho da TV ou do frigorífico novo que faz tudo? Ou do juntar dinheiro para as férias? De tudo isto estou farto, cansado.
Num outro patamar, voltar pelo amor? Quase de certeza não voltarei a ter nada parecido com o que tive. O maior que vivi foi de tal forma intenso… tão poderoso que dificilmente voltará a acontecer. De resto, sexo avulso ou na melhor das hipóteses, amores ligeiros?
Nas artes e nas filosofias: continuo a achar piada às maneiras novas que se arranjam para dizer coisas velhas. Mas, apenas isso.
Ok, concedo que haja uma coisa: nunca fui rico. Isto é, podre de rico! Só que, não só não quero fazer disso objectivo de vida como também pesa o facto de, para me tornar milionário, ou me saía um daqueles grandes jackpots, ou assaltava um banco (ou vários) ou teria de enveredar por negócios onde para se ter êxito, forçosamente se tem de enganar, iludir e até trair. Fora de questão.
Sobre a do árabe: já plantei uma árvore, escrevi um livro e tive uma filha. Está cumprida a minha parte.
Mas é aqui que há a tal “pequena” coisa que impede a minha vida de dar o seu próximo e lógico passo, ou seja, morrer. Não posso. Quer por dever, quer sobretudo por amor eu tenho de cá estar enquanto o meu corpo me deixar estar. Há um ser (maravilhoso, por sinal) que nasceu de mim e cabe-me acompanhá-lo em tudo o que puder; segurá-la antes de cair, se tal me for possível ou antever as quedas tudo fazendo para que elas não aconteçam; dar-lhe tudo o que sei para que tenha defesas no enfrentar a vida que irá ter e que não será fácil (talvez que os únicos a ter vidas fáceis sejam aqueles que não vivam…) e pôr nela todo o carinho que existe em mim transformado seja em abraços, beijos ou num simples dar a mão – este é o meu papel no mundo, hoje.

Deve ser realçado que sentindo-me eu tão em paz e determinado à não-existência seja o Amor que me mantenha a existência.

Croquetes: post # 2 e final

Pensei em fazer um comentário no lugar destinado a tal dentro do anterior post mas, dado o avolumar da tragédia, penso que um segundo post aos croquetes é merecido.

Aconteceu. Hoje tentei novamente e o resultado… ainda foi pior que aquele que me levou a fazer o post anterior. Muito, muito mau mesmo!
E sim, segui as instruções que amavelmente me foram sugeridas. Tirei antes, deixei descongelar, óleo não demasiado quente, lume brando… enfim, a única coisa que não fiz foi pôr os palitos aos croquetes (salve seja). Será essa aquela pequena gota que faz a diferença? Vou ficar sem saber. Isto porque a minha vida com croquetes, pelo menos os feitos (ou desfeitos) por mim, acaba aqui.

Declaração: não mais comerei papa de carne moída embebida numa imensidão de óleo. Nunca mais!
Sim, porque desta vez foi isso que aconteceu. Não houve borbulhas, nem erupções nem tão pouco explosões. Houve sim um desfazer, um despegar, um descolar daquilo que devia estar unido e com forma, cilíndrica, e tudo se transformou nessa enjoativa pasta oleosa.
Agradeço a contribuição de todos mas a partir de hoje apenas seguirei a sugestão de alguns.

Quanto a mim na cozinha, cinjo-me àquilo que sei: cozinhar massas. Nisso sou bom! Hmmm, pelo menos é o que dizem…

Até já. Vou comprar croquetes.
FEITOS!

segunda-feira, março 20, 2006

Croquetes

Ponto 1.
Gosto de croquetes.

Ponto 2.
Como não tenho pachorra para fazer aquela massa e ajeitar tudo até terem a forma habitual, compro uns congelados, daqueles que basta pôr a fritar.

Ponto 3.
Aquilo que pode parecer a operação mais simples do mundo, para mim, não o é. A saber: não consigo que nenhum croquete frite por completo sem, ou fazer uma bolha, ou rasgar-se ao meio ou ainda, estilhaçar-se por completo na frigideira.

Ponto 4.
Tem este post, a finalidade que irá ser descrita em maiúsculas no ponto 5.

Ponto 5.
COMO RAIO SE FAZEM CROQUETES SEM QUE ELES EXPLUDAM OU COISA QUE O VALHA? ALGUÉM ME EXPLICA? OBRIGADO!

domingo, março 12, 2006

Clonagem: Aula Magna, 10MAR2006

. História
Os Genesis na sua primeira fase, na altura em que Peter Gabriel fazia parte da banda, foram um dos grupos que mais me marcou. A descoberta da sua música e líricas coincidiu com o fim da minha adolescência, princípio de juventude. Mas não se esgota aí; ainda hoje continuo a ouvir, talvez não com o mesmo prazer, mas sim outro diferente, que não melhor nem pior, os seus álbuns.
Aquele tipo de música, o chamado rock progressivo ou rock sinfónico, embora tenha tido e continue a ter muitos seguidores, muitas bandas vivendo aquelas sonoridades, há muito que parece ter-se esgotado. Na sua época áurea, grupos como os pioneiros Procol Harum, Moody Blues, King Crimson e depois Emerson, Lake and Palmer, Gentle Giant, Van der Graaf Generator, Yes e os referidos Genesis, foram expoentes os máximos daquele formato musical. Em finais dos anos 70 a maior parte destas bandas, ou tinha deixado de existir ou arrastavam-se, repetindo-se. Era o fim. Tudo o que veio daqui para a frente, todos os novos grupos, não passou de repetições de fórmulas antes inventadas. Super-grupos como os Asia, formados por membros das citadas bandas, tiveram como único fito o assalto ao mercado americano, a caça aos dólares que não receberam antes, pois se se excluírem os casos pontuais de sucesso e se retirarmos os ELP da lista – essa sim uma banda com um maciço êxito comercial – todas as outras apenas tinha público, e mesmo assim não muito numeroso, na Europa. Era, e é, uma linguagem essencialmente europeia.
Assim sendo, se não houvessem fenómenos como o que descreverei à frente, restar-nos-iam os discos, os (poucos) concertos ao vivo filmados e… as memórias de quem teve o privilégio de assistir a algum, o que não é o meu caso.

. Nostalgia
Pode haver nostalgia de algo que não se viveu, que não se viu, ouviu e sentiu? Pode. Pode, e de que maneira!
O concerto da digressão de lançamento de «The Lamb Lies Down On Broadway», o último disco dos Genesis com Peter Gabriel, aconteceu em Lisboa em Março de 1975. Não vi, porque não vivia ainda em Portugal e mesmo que vivesse seria demasiado novo para poder ir.
Devido ao meu amor e devoção pelo disco, foi algo que me ficou para sempre atravessado, não poder ter visto aquele que é unanimemente considerado como um dos melhores concertos ao vivo realizado em solo português. Quem viu nunca mais esqueceu.
Devido à saída de Peter Gabriel, a possibilidade daquilo voltar a acontecer era nula.
Mas… vivemos no tempo da clonagem, não é? Há já algum tempo que existem grupos que fazem todo um percurso copiando… oops, clonando outros grupos. Os Musical Box, titulo duma canção dos Genesis, são os clones destes. Felizmente, repito, felizmente!, apenas da fase Gabriel. Foi o concerto deles que recria (será este o termo certo?) o “tal” concerto da digressão de «The Lamb Lies Down On Broadway» que fui ver ontem à Aula Magna.

. Concerto
A questão mais recorrente sobre este tipo de coisas será certamente a dúvida do mérito de tais eventos. Eu próprio estive dividido até ao concerto – que adorei, confesso já! – e depois rendi-me. Vejamos: terá ou não terá valor o imitar e, ainda por cima, imitar bem? Aos que crêem que qualquer imitação, uma vez que não traz nada de novo e original é, à partida, desprovida de valor só posso dizer: discordo.
Todo o material dos Genesis dessa altura era extremamente complexo. Os componentes da banda eram músicos de excelência e a sua música, dificílima de pôr em reproduzir em palco. Fiquei siderado com a qualidade de execução destes Musical Box. Sobretudo o guitarrista, François Gagnon (o que “faz o papel de” Steve Hackett) e o baterista Martin Levac, (Phil Collins no original) deslumbraram! Virtuosismo e alma ao mesmo tempo são difíceis de encontrar. Os restantes instrumentistas, sem estarem ao nível daqueles dois, são igualmente muito bons. Quanto à parte vocal, vamos lá ver… felizmente não sou louco ao ponto de pensar que ia ouvir “um” Peter Gabriel. A sonoridade da voz dele, o timbre e as cambiantes tonais são demasiado únicas para que alguém consiga lá chegar e manter durante duas horas e meia. Assim sendo, após receber e absorver o primeiro choque, resignei-me a aceitar aquela voz que ouvia. Por vezes custou um pouco pois, como foram discos que ouvi tantas e tantas vezes, não só quase sei de cor as letras como também a maneira como Gabriel vai dizer a palavra seguinte já soa cá dentro antes de a ouvir.
Apesar deste, já esperado, ponto mais fraco, foi uma bela viagem no tempo. A um tempo que nunca vivi.

. Música e palavras
O alinhamento do concerto foi simples: tocaram o “Lamb” (que para quem não sabe é um disco duplo) duma ponta a outra e depois duas canções mais antigas, a inevitável Musical Box para de seguida fecharem com a sempre violenta The Knife.
A seguir ao concerto, a caminho dum bar, em conversa com um dos meus vários Amigos que estiveram lá, dizia-me ele: quantos discos ouviste tu durante a vida? Milhares, certo? Tenho a certeza que sim e também tenho a certeza que «The Lamb Lies Down On Broadway» é e será sempre um dos teus, e também meus discos preferidos.
E é.
É uma das obras que roça a perfeição. Está lá tudo o que quero e sempre quis em música. E ainda por cima estão lá palavras, poemas, que me marcaram numa altura da minha vida e, em muitos casos, continuam tão actuais como nessa altura. Como disse antes, certamente que os significados serão outros mas, continua a haver significado.
Na impossibilidade de passar para aqui a música – poderia utilizar o mLog mas por motivos que não são para aqui chamados, não o farei, isto apesar de há algum tempo atrás lá ter posto uma música do Lamb – transcrevo uma das canções que foram “escritas para mim”.

The Chamber of 32 Doors

At the top of the stairs, their's hundreds of people,
running around to all the doors.
They try to find themselves an audience;
their deductions need applause.

The rich man stands in front of me,
The poor man behind my back.
They believe they can control the game,
but the juggler holds another pack.

I need someone to believe in, someone to trust.
I need someone to believe in, someone to trust.

I'd rather trust a countryman than a townman,
You can judge by his eyes, take a look if you can,
He'll smile through his guard,
Survival trains hard.
I'd rather trust a man who works with his hands,
He looks at you once, you know he understands,
Don't need any shield,
When you're out in the field.

But down here,
I'm so alone with my fear,
With everything that I hear.
And every single door, that I've walked through
Brings me back here again,
I've got to find my own way.

The priest and the magician,
Singing all the chants that they have ever heard;
They're all calling out my name,
Even academics, searching printed word.

My father to the left of me,
My mother to the right,
Like everyone else they'er pointing
But nowhere feels quite right.

And I need someone to believe in, someone to trust.
I need someone to believe in, someone to trust.

I'd rather trust a man who doesn't shout what he's found,
There's no need to sell if you're homeward bound.
If I chose a side,
He won't take me for a ride.

Back inside
This chamber of so many doors;
I've nowhere to hide.
I'd give you all of my dreams, if you'd help me,
Find a door
That doesn't lead me back again

- take me away.

P.S. - Pronto... não resisti a pôr a canção no mLog.


sexta-feira, março 10, 2006

A técnica

Numa destas noites, num bar, à conversa com uma amiga minha enfermeira, dizia ela:
- Realmente há várias técnicas para se darem injecções mas eu não tenho dúvidas daquela que prefiro: a das palmadinhas. Descontraem o músculo e distraem a atenção do doente. Decididamente, adoro as palmadinhas.

A música estava suficientemente alta para se ter de levantar o tom de voz, doutra forma seria impossível ouvirmo-nos. Mas entre uma canção e outra há sempre um momento de menor ruído e quando uma música acaba duma forma repentina…

Resumindo, o que as pessoas das mesas à volta da nossa ouviram, foi:
- Música…
- Fim de música…
- DECIDIDAMENTE, ADORO AS PALMADINHAS!
- Outra música…

Creio não precisar de dizer quantos olhares malandrinhos e risadas ainda mais malandras houve à nossa volta…

segunda-feira, março 06, 2006

Não uma, mas três! (fotos)



Pronto, rendo-me!
Após tantos pedidos, desisto. Cá vai ele, o...
PANTUFA
(também conhecido por Tufa, Tufo, Tufinho, Pantas, Pencudo... depende da disposição para com o animalejo)
Para quem não sabe, é o cão da minha filha mas como vive cá em casa o tratador... sou eu.

Tá apresentado. Se houver alguma questão, que seja posta agora para que, de vez, possa arrumar o assunto cão. (Como se ele, o Pantufa, me deixasse arrumá-lo)

:)

E eu que não queria pôr fotos neste blog. As coisas que um cão é capaz de fazer...

domingo, março 05, 2006

Pablo

Aqui tens
como um monte de espadas
o meu coração
Disposto à batalha!

Pablo Neruda

(talvez a mais bela e simples manifestação de disponibilidade que conheço. e vale para tudo)