Clonagem: Aula Magna, 10MAR2006
. História
Os Genesis na sua primeira fase, na altura em que Peter Gabriel fazia parte da banda, foram um dos grupos que mais me marcou. A descoberta da sua música e líricas coincidiu com o fim da minha adolescência, princípio de juventude. Mas não se esgota aí; ainda hoje continuo a ouvir, talvez não com o mesmo prazer, mas sim outro diferente, que não melhor nem pior, os seus álbuns.
Aquele tipo de música, o chamado rock progressivo ou rock sinfónico, embora tenha tido e continue a ter muitos seguidores, muitas bandas vivendo aquelas sonoridades, há muito que parece ter-se esgotado. Na sua época áurea, grupos como os pioneiros Procol Harum, Moody Blues, King Crimson e depois Emerson, Lake and Palmer, Gentle Giant, Van der Graaf Generator, Yes e os referidos Genesis, foram expoentes os máximos daquele formato musical. Em finais dos anos 70 a maior parte destas bandas, ou tinha deixado de existir ou arrastavam-se, repetindo-se. Era o fim. Tudo o que veio daqui para a frente, todos os novos grupos, não passou de repetições de fórmulas antes inventadas. Super-grupos como os Asia, formados por membros das citadas bandas, tiveram como único fito o assalto ao mercado americano, a caça aos dólares que não receberam antes, pois se se excluírem os casos pontuais de sucesso e se retirarmos os ELP da lista – essa sim uma banda com um maciço êxito comercial – todas as outras apenas tinha público, e mesmo assim não muito numeroso, na Europa. Era, e é, uma linguagem essencialmente europeia.
Assim sendo, se não houvessem fenómenos como o que descreverei à frente, restar-nos-iam os discos, os (poucos) concertos ao vivo filmados e… as memórias de quem teve o privilégio de assistir a algum, o que não é o meu caso.
Pode haver nostalgia de algo que não se viveu, que não se viu, ouviu e sentiu? Pode. Pode, e de que maneira!
O concerto da digressão de lançamento de «The Lamb Lies Down On Broadway», o último disco dos Genesis com Peter Gabriel, aconteceu em Lisboa em Março de 1975. Não vi, porque não vivia ainda em Portugal e mesmo que vivesse seria demasiado novo para poder ir.
Devido ao meu amor e devoção pelo disco, foi algo que me ficou para sempre atravessado, não poder ter visto aquele que é unanimemente considerado como um dos melhores concertos ao vivo realizado em solo português. Quem viu nunca mais esqueceu.
Devido à saída de Peter Gabriel, a possibilidade daquilo voltar a acontecer era nula.
Mas… vivemos no tempo da clonagem, não é? Há já algum tempo que existem grupos que fazem todo um percurso copiando… oops, clonando outros grupos. Os Musical Box, titulo duma canção dos Genesis, são os clones destes. Felizmente, repito, felizmente!, apenas da fase Gabriel. Foi o concerto deles que recria (será este o termo certo?) o “tal” concerto da digressão de «The Lamb Lies Down On Broadway» que fui ver ontem à Aula Magna.
. Concerto
A questão mais recorrente sobre este tipo de coisas será certamente a dúvida do mérito de tais eventos. Eu próprio estive dividido até ao concerto – que adorei, confesso já! – e depois rendi-me. Vejamos: terá ou não terá valor o imitar e, ainda por cima, imitar bem? Aos que crêem que qualquer imitação, uma vez que não traz nada de novo e original é, à partida, desprovida de valor só posso dizer: discordo.
Todo o material dos Genesis dessa altura era extremamente complexo. Os componentes da banda eram músicos de excelência e a sua música, dificílima de pôr em reproduzir em palco. Fiquei siderado com a qualidade de execução destes Musical Box. Sobretudo o guitarrista, François Gagnon (o que “faz o papel de” Steve Hackett) e o baterista Martin Levac, (Phil Collins no original) deslumbraram! Virtuosismo e alma ao mesmo tempo são difíceis de encontrar. Os restantes instrumentistas, sem estarem ao nível daqueles dois, são igualmente muito bons. Quanto à parte vocal, vamos lá ver… felizmente não sou louco ao ponto de pensar que ia ouvir “um” Peter Gabriel. A sonoridade da voz dele, o timbre e as cambiantes tonais são demasiado únicas para que alguém consiga lá chegar e manter durante duas horas e meia. Assim sendo, após receber e absorver o primeiro choque, resignei-me a aceitar aquela voz que ouvia. Por vezes custou um pouco pois, como foram discos que ouvi tantas e tantas vezes, não só quase sei de cor as letras como também a maneira como Gabriel vai dizer a palavra seguinte já soa cá dentro antes de a ouvir.
Apesar deste, já esperado, ponto mais fraco, foi uma bela viagem no tempo. A um tempo que nunca vivi.
O alinhamento do concerto foi simples: tocaram o “Lamb” (que para quem não sabe é um disco duplo) duma ponta a outra e depois duas canções mais antigas, a inevitável Musical Box para de seguida fecharem com a sempre violenta The Knife.
A seguir ao concerto, a caminho dum bar, em conversa com um dos meus vários Amigos que estiveram lá, dizia-me ele: quantos discos ouviste tu durante a vida? Milhares, certo? Tenho a certeza que sim e também tenho a certeza que «The Lamb Lies Down On Broadway» é e será sempre um dos teus, e também meus discos preferidos.
E é.
É uma das obras que roça a perfeição. Está lá tudo o que quero e sempre quis em música. E ainda por cima estão lá palavras, poemas, que me marcaram numa altura da minha vida e, em muitos casos, continuam tão actuais como nessa altura. Como disse antes, certamente que os significados serão outros mas, continua a haver significado.
Na impossibilidade de passar para aqui a música – poderia utilizar o mLog mas por motivos que não são para aqui chamados, não o farei, isto apesar de há algum tempo atrás lá ter posto uma música do Lamb – transcrevo uma das canções que foram “escritas para mim”.
running around to all the doors.
They try to find themselves an audience;
their deductions need applause.
The poor man behind my back.
They believe they can control the game,
but the juggler holds another pack.
I need someone to believe in, someone to trust.
You can judge by his eyes, take a look if you can,
He'll smile through his guard,
Survival trains hard.
I'd rather trust a man who works with his hands,
He looks at you once, you know he understands,
Don't need any shield,
When you're out in the field.
I'm so alone with my fear,
With everything that I hear.
And every single door, that I've walked through
Brings me back here again,
I've got to find my own way.
Singing all the chants that they have ever heard;
They're all calling out my name,
Even academics, searching printed word.
My mother to the right,
Like everyone else they'er pointing
But nowhere feels quite right.
I need someone to believe in, someone to trust.
There's no need to sell if you're homeward bound.
If I chose a side,
He won't take me for a ride.
This chamber of so many doors;
I've nowhere to hide.
I'd give you all of my dreams, if you'd help me,
Find a door
That doesn't lead me back again
- take me away.
P.S. - Pronto... não resisti a pôr a canção no mLog.
3 Comments:
"At the top of the stairs he finds a chamber. It is almost a hemisphere with a great many doors all the way round its circumference. There is a large crowd, huddled in various groups. From the shouting, Rael learns that there are 32 doors, but only one that leads out. Their voices get louder and louder until Rael screams "Shut up!" There is a momentary silence and then Rael finds himself the focus as they direct their advice and commands to their new found recruit. Bred on trash, fed on ash the jigsaw master has got to move faster. Rael sees a quiet corner and rushes to it."
"Pode haver nostalgia de algo que não se viveu, que não se viu, ouviu e sentiu? Pode. Pode, e de que maneira!"
*
Olhem-me só para isto: até conhece o texto da história do Rael!!!
Ah! E diz ela que não é profíqua em inglês. Bom, para ler a história do Rael não será bem como diz, minha senhora. Você domina muito bem a língua (inglesa, claro)
;)
Eu considero-me "musicalmente ignorante". Os meus conhecimentos não vão além do gosto ou não gosto. Hélas... :)
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