Não se fica a ver dormir qualquer pessoa
Sabes... Saber sabes, só não sei se sabes por experiência própria ou se por observação. Mas isso é irrelevante.
Com certeza sabes o que é viver com uma culpa. Uma culpa que não se desculpa: a culpa da perda por culpa própria.
Acordei mais uma vez assim, hoje.
Em muitos dias não vem, não pesa. Mas por vezes volta.
Há muito que percebi o que perdi quando a perdi.
«Cheguei muito tarde. Os teus desencontros anteriores – estão muito vivos ainda, e penso que vão permanecer assim. Serás sempre um menino num corpo adulto, com um coração muito generoso, mas com quem não é fácil conviver mais do que dois dias seguidos.»
A desculpa que sempre dei a mim mesmo foi o de na altura ainda ter bastante pele da (……) na minha pele.
Na verdade eu não me deixei gostar! E não deixei que ela gostasse.
Recusei. E magoei-a para que me deixasse, me largasse. Até lhe escrevi coisas que não eram verdade.
Porque eu não queria aceitar que o que ela sentia por mim fosse verdadeiro. Rejeitava-o.
Porque se o aceitasse ao mesmo tempo também teria que aceitar que gostava dela e eu não queria fazê-lo. Tinha medo de gostar novamente.
«Fui pouco paciente, em alturas em que devia ter sido mais. Fui pouco sensível, quando precisaste e sobretudo não te soube escutar.»
Sabes porquê? Porque a paixão dela era tal que, para ela não havia tempo para mais nada que não fosse sexo. E O QUE ELA SENTIA ERA PERFEITAMENTE NATURAL!
Ela tinha e tem cabeça. Muito para dar. Só que… não dava. Porque não se conseguia conter e às tantas eu já não a queria ver mais à frente!
E nessa altura duvidei que gostasse realmente de mim. Convenci-me que a única coisa que ela queria era exploração dos corpos até á exaustão.
Mas fui tão estúpido que nem sequer percebi a verdade quando a verdade foi cristalina: um dia ela disse-me que tinha acordado primeiro - o que era habitual. E disse-me que me tinha ficado a ver dormir.
Não se fica a ver dormir qualquer pessoa, pois não?!
Foi essa a forma que ela teve para me dizer o quanto gostava. Doutra forma não foi capaz. Ela mais tarde veio a admitir esse “pecado”, que não é pecado nenhum. Há pessoas que comunicam além e aquém da superfície, e para quem bastam coisas dessas para se perceberem como ninguém.
Mas eu não percebi!
Apeteceu-me magoá-la.
Na minha vida houve apenas duas pessoas perante as quais me humilhei.
Esta foi uma delas.
Lembro-me dela muitas vezes aqui em casa. E hoje de manhã acordei assim… acordei “com ela”.
Eu tinha tido aquela loucura toda com a (……). Após isso, quando consegui recomeçar a sair com pessoas, quase que as desprezava. Lamento dizê-lo, mas era o que sentia. E depois, aconteceu ela. E a ela não me foi possível desprezar.
Mas ao mesmo tempo não queria dar tudo o que ela queria. Não queria!
Eu sei que sou essencialmente físico mas preferia que por vezes estivéssemos ali um pouco no sofá a ver um filme ou coisa assim. Só que a certa altura ela já não se conseguia concentrar. E aparecia-me uma perna ou uma mão… e, penso que pela primeira vez na vida, aquilo metia raiva!
Nunca tive outra quando andei com ela. Embora lhe tenha dito que sim. Só para estar uns tempos sozinho.
E porque sabia (vês? eu sabia! é isso que me lixa!) que ela iria ficar muito magoada.
E assim ela pensa que me teve menos do que realmente me teve.
Mas mesmo pensando assim ela nunca o dizia, nunca se queixava. Pelo menos não daquele modo lamecha. Se o dissesse, se se queixasse dessa forma eu poderia sair dela muito facilmente. Mas não. Aguentava estoicamente! Sem fazer ondas, sem ser chata.
Completamente! Admiro-a tanto, por isso. E não só.
Depois… quando eu voltei a mim, já foi tarde. Tínhamos estado afastados muito tempo e a minha volta, a volta que em mim se deu e que me fez voltar para, por fim, ficar, aconteceu. Mas… tarde demais.
Porquê? Porque tem outro.
Eu fiquei tanto tempo fora de cena que ela se convenceu que nunca mais voltaria. E apareceu-lhe um daqueles fulanos bonzinhos.
Eles aparecem.
E acabou. Foi. Foi-se.
Com certeza sabes o que é viver com uma culpa. Uma culpa que não se desculpa: a culpa da perda por culpa própria.
Acordei mais uma vez assim, hoje.
Em muitos dias não vem, não pesa. Mas por vezes volta.
Há muito que percebi o que perdi quando a perdi.
«Cheguei muito tarde. Os teus desencontros anteriores – estão muito vivos ainda, e penso que vão permanecer assim. Serás sempre um menino num corpo adulto, com um coração muito generoso, mas com quem não é fácil conviver mais do que dois dias seguidos.»
A desculpa que sempre dei a mim mesmo foi o de na altura ainda ter bastante pele da (……) na minha pele.
Na verdade eu não me deixei gostar! E não deixei que ela gostasse.
Recusei. E magoei-a para que me deixasse, me largasse. Até lhe escrevi coisas que não eram verdade.
Porque eu não queria aceitar que o que ela sentia por mim fosse verdadeiro. Rejeitava-o.
Porque se o aceitasse ao mesmo tempo também teria que aceitar que gostava dela e eu não queria fazê-lo. Tinha medo de gostar novamente.
«Fui pouco paciente, em alturas em que devia ter sido mais. Fui pouco sensível, quando precisaste e sobretudo não te soube escutar.»
Sabes porquê? Porque a paixão dela era tal que, para ela não havia tempo para mais nada que não fosse sexo. E O QUE ELA SENTIA ERA PERFEITAMENTE NATURAL!
Ela tinha e tem cabeça. Muito para dar. Só que… não dava. Porque não se conseguia conter e às tantas eu já não a queria ver mais à frente!
E nessa altura duvidei que gostasse realmente de mim. Convenci-me que a única coisa que ela queria era exploração dos corpos até á exaustão.
Mas fui tão estúpido que nem sequer percebi a verdade quando a verdade foi cristalina: um dia ela disse-me que tinha acordado primeiro - o que era habitual. E disse-me que me tinha ficado a ver dormir.
Não se fica a ver dormir qualquer pessoa, pois não?!
Foi essa a forma que ela teve para me dizer o quanto gostava. Doutra forma não foi capaz. Ela mais tarde veio a admitir esse “pecado”, que não é pecado nenhum. Há pessoas que comunicam além e aquém da superfície, e para quem bastam coisas dessas para se perceberem como ninguém.
Mas eu não percebi!
Apeteceu-me magoá-la.
Na minha vida houve apenas duas pessoas perante as quais me humilhei.
Esta foi uma delas.
Lembro-me dela muitas vezes aqui em casa. E hoje de manhã acordei assim… acordei “com ela”.
Eu tinha tido aquela loucura toda com a (……). Após isso, quando consegui recomeçar a sair com pessoas, quase que as desprezava. Lamento dizê-lo, mas era o que sentia. E depois, aconteceu ela. E a ela não me foi possível desprezar.
Mas ao mesmo tempo não queria dar tudo o que ela queria. Não queria!
Eu sei que sou essencialmente físico mas preferia que por vezes estivéssemos ali um pouco no sofá a ver um filme ou coisa assim. Só que a certa altura ela já não se conseguia concentrar. E aparecia-me uma perna ou uma mão… e, penso que pela primeira vez na vida, aquilo metia raiva!
Nunca tive outra quando andei com ela. Embora lhe tenha dito que sim. Só para estar uns tempos sozinho.
E porque sabia (vês? eu sabia! é isso que me lixa!) que ela iria ficar muito magoada.
E assim ela pensa que me teve menos do que realmente me teve.
Mas mesmo pensando assim ela nunca o dizia, nunca se queixava. Pelo menos não daquele modo lamecha. Se o dissesse, se se queixasse dessa forma eu poderia sair dela muito facilmente. Mas não. Aguentava estoicamente! Sem fazer ondas, sem ser chata.
Completamente! Admiro-a tanto, por isso. E não só.
Depois… quando eu voltei a mim, já foi tarde. Tínhamos estado afastados muito tempo e a minha volta, a volta que em mim se deu e que me fez voltar para, por fim, ficar, aconteceu. Mas… tarde demais.
Porquê? Porque tem outro.
Eu fiquei tanto tempo fora de cena que ela se convenceu que nunca mais voltaria. E apareceu-lhe um daqueles fulanos bonzinhos.
Eles aparecem.
E acabou. Foi. Foi-se.
10 Comments:
Texto tristemente belo... não acabou enquanto houverem manhãs em que se acorde com a culpa da perda por culpa própria...
O que não invalida que se construam novas culpas, para novos acordares!
eu nunca teria coragem para dizer que gostava...eu nunca teria coragem para admitir que o ficava a ver dormir...não teria...custa-me menos dizer que não gosto dele como ele pensa que gosto...que o ciúme que ele pensa ver não existe, que não me importa que ele durma com outras mulheres...de lhe dizer na cara que eu também durmo com outros homens...que somos livres para o fazer...que não temos qualquer compromisso e que tenho a certeza que não me vou apaixonar por ele...então...porque doí tanto quando ele diz que neste momento sente que não quer ficar com ninguém?
cheguei tarde, como sempre! não olhas para mim, para além do meu corpo; vês em mim um escape provisório; eu espero, silenciosamente espero, pelo sorriso, pelo olhar, pela percorrer dos dedos nas minhas costas, e espero; tens um dom, o dom de me machucares, de me sentir estúpida; quieta espero, ao teu lado, ams não estás ali; o teu braço enrolado debaixo da almofada, um sono ausente distante sem mim...
(PS: o teu texto está tocante,lindo)
'Sem fazer ondas, sem ser chata' (um pouco machista, não ;)?)
olha que há encontros que não se repetem (pelo menos com a mesma pessoa).
beijinhos e...olha à tua volta, encontras quem necessite de afecto...
Muito difícil, mas admiro a coragem de dizer.
No texto não sei se falas por ti ou se apenas o escreveste sem viver as palavras. Mas dizê-lo é um grande passo, sabê-lo é outro... dizer-lhe a verdade...?
O amor raramente é sentido... e com a verdade nunca se fica mal. É tentar e não se arrepender de nunca ter tentado...
Acordaste tarde demais para este assunto, mas acordaste. E isso é já mais que muito. Há quem passe uma vida inteira adormecido. Por isso, acordaste perfeitamente a tempo de tudo o que se segue.
Acabou. Foi-se. Esse capítulo. Outros virão.
Porque é que só damos conta dos nossos erros quando perdemos? Por uma simples razão, por falta de diálogo, por falta de expressão de sentimentos, por falta muitas vezes de admitir e ter consciência que estamos a errar e moldarmo-nos. Como disseste "acabou.foi.foi-se." o próximo já não perdes dessa forma...teres exprimido agora os teus sentimentos da forma como o fizeste, é sinal de aprendizagem e consciência dos erros...foi tarde, mas pelo menos não te deixaste enganar pelas tuas mentiras e decidiste enfrentar a verdade...isso faz-te crescer para um próximo capítulo.*
Texto tocante.
E percebo-a perfeitamente.
Somos tão dificeis de compreender...porque que é que muitas das vezes, fazemos o contrário do que gostariamos? Sem querer ser parcial, penso que os homens são muitos orgulhosos. Talvez devesses permitir-te ser tu próprio.
Sem conselhos, que não sou "mana" para tal, e, de tão poliédrica, soaria por demais estranho.
'Apenas para partilhar a lembrança de ter assistido ao parto escrito. E expressar agora, porque não antes, que "sem fazer ondas, sem ser chata" é machista, tanto quanto "sem fazer ondas, sem ser chato" seria feminista.
O amor e a culpa, o prazer e a dor, esses são íntimos... Tanto-tanto, que cada um os vive e expressa apenas como pode e como sabe.
Por essa ordem de ideias, terás sempre algo de sábio, e de poderoso...
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