terça-feira, setembro 05, 2006

7 movimentos

Porque prometi à Nes e porque as promessas são para cumprir, cá vão as sete.


1 Nasci em Lisboa mas muito cedo fui para Angola. Os anos que lá passei ficaram entranhados dentro de mim. Para o mal ou para o bem, a pessoa que sou não existiria sem aquela vivência.

2 Acima de tudo (e apesar do que digo em alguns momentos – ver posts anteriores) amo a vida. Gosto de respirar, de sentir a vida a entrar em mim. Obviamente, como amante da vida, tudo o que é água me fascina. Desde a que sai duma simples torneira, deixá-la escorrer pelas mãos, até ao expoente máximo, o mar. Mar: mar em configuração calma, reflectindo a Lua, sua eterna companheira, os dois em conjunto ordenando aos corpos que se entrelacem e respirem em simultâneo. Ou mar revolto, das tempestades brutais, com espuma salgada a bater em cascos de navios, ilhas minúsculas tentando sobreviver no infinito.
Ambas as facetas são vida e morte. Uma inclui a outra.

3 Por “culpa” do meu pai quase que cresci dentro do cinema. A imagem fixa pode dizer-me muito mas a que mexe, quando mexe bem, leva-me para dentro dela; faz-me viver lá. Afinal sou eu o maluquinho que tem mais de 800 filmes em casa e… tem tão poucos quando pensa no que lhe falta ter. Sou eu o maluquinho que vê e revê vezes sem fim takes, passagens, movimentos de câmara ou expressões de actores. Bem, é melhor seguir adiante…
E depois há a música. Sempre presente, sempre presente, sempre presente. Excepto (ou mesmo) quando me apetece ouvir o silêncio. Não creio que quem goste de música não saiba ouvir silêncio.
E não podiam faltar as palavras. Quer em histórias, escritas ou ditas – continuo a adorar ouvir uma boa história bem contada – quer em qualquer outra forma. Sobretudo quando à primeira vista essa forma aparenta não ter sentido. Aqui, como em qualquer outra manifestação, o que está “escondido” fascina-me.

4 Quem não me conhece normalmente acha-me uma pessoa calma. Quem me conhece diz o contrário: que encubro, que mantenho cá dentro as brasas acesas e que, para fora apenas deixo passar a distância. Na realidade nem sempre assim é. Como diria um amigo meu «há alturas na vida em que temos mesmo que nos irritar». E sim, vai disto e pumba! Mas é raro.
Não tenho personalidade de líder. Nunca tive e duvido que alguma vez venha a ter. Sou muito mais o “conselheiro”, o hmmm… o “consultor”. Alguém que fica na sombra sempre atento ao que se diz, como se diz e qualquer outro pormenor revelador. Habitualmente são neles que vivem as revelações.

5 Sou devotamente ateu. Para mim, nada faria sentido se realmente existisse uma entidade divina. Compreendo e aceito sem discussão qualquer crença de qualquer um. Bom, aquelas que afirmam peremptoriamente coisas que cientificamente estão provadas serem quase absurdos custam muito a engolir. Pronto… fica assim.
Mas também eu tenho a minha fé. Uma fé que me diz que há, que podem haver relações divinas. Serão sempre terráqueas, claro, mas ainda acredito nelas. Chamem-me utópico se quiserem; eu continuo a acreditar que são possíveis os complementos. O que me falta tu tens, vice-versa, e o que resta temos os dois em comum.

6 Aprecio inteligência pura. Em momentos grandes ou numa simples particularidade, as manifestações de inteligência são bafejos de calor. A curiosidade deverá sempre acompanhá-la, não faz sentido que seja de outra forma. Se é certo que não somos capazes de saber tudo não deixará de ser menos correcto que… podemos tentar.
Olhos bem abertos, absorvendo na mente e na pele. Os sentidos também me comandam. Eles servem para ser usados e aplicados. E qualquer deles é mais deslumbrante que o seu vizinho do lado.

7 Sei que sou: preguiçoso, egoísta, convencido, desorganizado e que por vezes me acomodo com alguma facilidade.

(Nes, obrigado por me teres “obrigado” a fazer isto. Fez-me bem.)