sábado, dezembro 31, 2005

O Rei morreu. Viva o Rei!

Já se arrastava.
Estava moribundo.
O esforço era enorme, apelava às poucas energias que lhe restavam numa tentativa desesperada de alcançar a meta.
Mais um pouco, só mais um pouco... o tempo ia-se esgotando.
Agonizava mas vendo a contagem a aproximar-se, num último fôlego, deu mais um impulso a si próprio. E nessa altura o relógio começou a entrar no tic-tac final: 10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1… 0 – e morreu.

E logo a seguir nasceu o puto!
Chamaram-lhe 2006.

segunda-feira, dezembro 26, 2005

Salvamos. Não importa o preço.

O velho abriu a porta do quarto e lentamente caminhou até ao leito onde ela dormia.
A criança estava agitada; o seu sono era povoado por um qualquer pesadelo infantil.
O velho sentou-se na borda da cama. Ergueu a sua mão trémula e num movimento vagaroso passou-a pela cabeça e rosto da menina.
A pele rugosa sorveu o mal que a atormentava. A partir desse instante o sono dela voltou a ser tranquilo.

O velho levantou-se e a andar penosamente conseguiu passar a porta. Depois, sentiu o coração ceder. Encostou-se à parede e deslizou… até parar, sentado no chão, a cabeça pendente.
Aí ficou.

sexta-feira, dezembro 23, 2005

Estou curioso de ver os resultados disto ;)

quinta-feira, dezembro 15, 2005

1 ponto para ela?

(…)
- O que as pessoas chamam de experiência em foi geral um erro.
- Não posso concordar mais. Todos temos uns esqueletos no armário.
- E se vão chocalhar é melhor que dancem.
- Tem toda a razão.
- Se concordarem comigo tenho a sensação de estar errada.
- Gosta de ser diferente? Nunca entenderei as mulheres.
- Nós não queremos ser entendidas, mas amadas.
- Está muito enganada.
- É tão compreensivo…

in «O Leque de Lady Windemere» de Oscar Wilde

terça-feira, dezembro 13, 2005

Consciências

«Henry põe-se debaixo do chuveiro, uma cascata forte bombeada do terceiro andar. Quando aquela civilização de desmoronar, quando os Romanos, sejam eles quais forem desta vez, partirem, e começar uma nova idade das trevas, este será um dos primeiros luxos a desaparecer. Os anciãos, acocorados junto à fogueira, contarão às crianças incrédulas que as pessoas tomavam banho nuas em pleno Inverno sob jactos de água quente e limpa, que tinham sabões perfumados e uns líquidos viscosos amarelados e vermelho-vivos com que esfregavam o cabelo para o tornar mais brilhante e mais volumoso do que era na realidade, e ainda uns toalhões brancos quase to tamanho de togas à sua espera em toalheiros aquecidos.»

in "Sabado" de Ian McEwan