quarta-feira, janeiro 24, 2007

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Tenho assistido muito de perto a uma daquelas histórias verdadeiras que não deviam existir.

Alguém, após termo do mandato do anterior chefe, foi designado para o suceder. Essa pessoa não tinha qualificações nem perfil de chefia, apenas foi nomeado por ser o mais antigo técnico do departamento em questão (algo que acontece amiúde nos organismos de estado).

Após a tomada de posse um bafejo de “democracia” invadiu o departamento. Como exemplo posso dizer que decisões, importantes ou não, passaram a ser tomadas por maioria em reuniões de todo o pessoal. Mesmo nas mais técnicas, tanto peso tinha o voto dum técnico qualificado como o dum funcionário administrativo que não tinha, porque não podia ter, a mínima ideia do que se ia decidir.
Claro que problemas começaram a dar-se e foram tantos e tão graves, que (imagino eu) alguém lhe deverá ter chamado à atenção para o descalabro que se anunciava. Arrepiou caminho e, em vez de todos os funcionários, passou a haver um restrito grupo técnico a tomar as decisões por ele.

Por falar em decisões, devo dizer que este indivíduo, talvez por sentir a sua intrínseca fragilidade e seguramente por recalcamentos e frustrações nunca ultrapassadas, deu início a uma guerra surda, muda e traiçoeira com dois funcionários da sua dependência. Porque estes eram maus profissionais? Não. Por motivos única e exclusivamente pessoais.

Se em qualquer caso é incorrecto que se misturem problemas pessoais com relações de trabalho, pior ainda não o fazendo abertamente, às claras, no frente-a-frente. Porque não chamar as pessoas à parte e dizer-lhes abertamente que não se sente bem em trabalhar com elas e aconselhá-las a procurar outra colocação? Embora até certo ponto questionável, esta atitude seria muito mais compreensível do que outra qualquer. Mas não foi isto que aconteceu. O referido chefe não só é demasiado cobarde para enfrentar alguém cara a cara, como, tendo pela primeira vez ao seu dispor instrumentos que lhe permitiam tornar num inferno a existência daquelas pessoas, decidiu fazê-lo.
Num dos casos o tiro saiu-lhe pela culatra pois que o funcionário em questão, estando à beira da reforma, conseguiu antecipá-la e disse-lhe adeus, até nunca. Quanto ao outro, esse não teve tanta sorte.

O tratamento começou duma forma discreta. Subtilmente foi sentindo que lhe estava a ser retirado trabalho mas, quando perguntava as razões, eram-lhe sempre apresentadas justificações altivas: estava a ser guardado para mais importantes e construtivas tarefas.
O tempo foi passando e, não só essas tarefas nunca apareceram (não obstante o funcionário as ter insistentemente procurado) como todas as restantes funções lhe foram, por fim, retiradas.

Confesso eu, eu que aqui escrevo este post, que por vezes a minha mente é rondada por pensamentos e estratégias perversas mas, mesmo assim vos digo, que nem nos meus devaneios mais insanos me tinha lembrado de torturar alguém fazendo com que essa pessoa não fizesse… nada!
A partir de determinada altura o funcionário ia todos os dias para o emprego e lá permanecia sete horas, sentado, olhando para o nada, fazendo nada e enlouquecendo aos poucos. E o seu estado anímico e psicológico foi-se deteriorando. Acordar de manhã, num dia de semana, começou a ser um pesadelo. Este mau estar, esta disfuncionalidade, este estado de desequilíbrio foi aumentando até ao dia em que, estando numa conversa com um grupo de pessoas do qual fazia parte o seu chefe, e, deparando-se uma vez mais com o cinismo e hipocrisia deste, sentiu em si uma vontade imensa de o esbofetear, esmurrar, pontapear…
Um sinal de alarme tocou dentro de si: se o fizesse, no instante em que o fizesse, perderia tudo. Por motivos óbvios não se poderia dar ao luxo de tal acontecer. Então, naquele mesmo instante, tomou a única decisão que lhe restava: ir ter com um psiquiatra, contar-lhe o que se estava a passar e entrar de baixa. Foi o que lhe restou para se preservar, para que a sua saúde física e mental não resvalasse para estados perigosos – para não endoidecer.

Entre baixas, voltas momentâneas ao emprego e férias, quase dois anos se passaram.
A meio de Dezembro de 2006, mais uma vez, voltou. Não se espantou muito ao ver que o seu posto de trabalho, o computador que utilizava, tivesse desaparecido. Passou a andar pelos corredores, aos caídos, vagueando. Por vezes um colega deixa-o utilizar o seu PC. Dá umas voltas pela net para se distrair um pouco e volta ao mesmo.
Sente que a próxima baixa não irá poder tardar muito, e, ao contrário de outros, anseia pelos excedentes como forma de conseguir outra colocação.

Esta história não tem final feliz. Algum dia terá?

segunda-feira, janeiro 22, 2007

O maior português

Ontem liguei a TV num canal generalista (coisa que já não fazia há algum tempo) e dei de caras com a Maria Elisa e o “seu” melhor português.
Vi a lista dos 10 mais e confesso que não tive grandes surpresas. Talvez a menos esperada presença tenha sido a de Aristides de Sousa Mendes e, quase que por contraponto, a ausência de Eusébio. De resto tudo normal. Tudo normal em Portugal.

Há um estudo recente feito por uma equipa de sociólogos, historiadores e psico-antropólogos onde se revela que os efeitos directos e colaterais do 11 de Setembro demorarão pelo menos 150 anos a desaparecerem.
A pergunta que ontem me veio à cabeça foi esta: neste nosso país quanto tempo demorará a desvanecer-se tudo quanto de mal nos fez António Salazar?
Se, como disse antes, a sua presença no top não me surpreende, também é um facto que não deixa de me entristecer. Continuamos a ser pequeninos tal como ele quis. Tão pequeninos que o elegemos como um dos mais num país que tem 900 anos de existência. A mediocridade, o “pensar pequeno”, está entranhado em nós e manifesta-se em coisas tão simples como esta: quando a vida no e do país não corre como esperávamos, como ansiávamos, em vez de tentar fazer algo para que mudanças aconteçam, viramo-nos para a memória de alguém que nos desgraçou durante 48 anos. Porquê? Talvez apenas porque Salazar é um ícone da autoridade e nas nossas pequenas cabeças, todos os problemas se resolvem com ela. Ou talvez porque ansiamos por alguém que nos diga (que nos mande!) o que fazer. Na sua tacanhez, Salazar foi esperto. Soube ler o país que tinha e, consciente ou inconscientemente, agarrar nas piores características deste povo e usá-las para os fins que eram os dele.
A história universal está repleta de ditadores. E se houve bárbaros, facínoras, indivíduos que chacinaram os seus próprios povos, houve um, na Península Ibérica, em Portugal, que não precisou de nada disso. Tenhamos a PIDE por exemplo: como polícia política dum regime ditatorial, comparada com outras que existiram foi tão branda nos seus costumes quanto brandos nos tornou Salazar. Assim reinou, encolhendo-nos, tornando-nos mansinhos, mais ainda do que tendencialmente já éramos. E, pelos vistos, continuará a reinar por muitos e muitos anos.

Não me espanta que Salazar seja eleito como o maior português de sempre. Não me espanta que os mesmos votantes voltem a intervir e que o voto dos restantes se disperse pelos que restam. Enfim, a capacidade de mobilização do PCP não deixa de me surpreender – a presença de Álvaro Cunhal nesta lista assim o atesta, porque se a militância não tivesse sido critério, se por acaso se tratasse unicamente dum voto anti Salazarista, creio que faria muito mais sentido aparecer entre os eleitos alguém como Humberto Delgado – mas mesmo assim, mesmo com o PCP e os comunistas militantes a pegar no telefone e carregarem o seu símbolo de votos, creio que não chegará para destronar aquele que mais detestam. Já agora, repare-se que não deixa de ser curioso que, visto por um determinado prisma, o voto em Cunhal também é um voto em Salazar!


Já agora…
Não sei se votarei. Este tipo de coisas tem a importância que lhe quisermos dar e nenhuma mais. De qualquer forma, se votasse nunca votaria num político ou estadista. Sou, por assim dizer, alérgico ao poder. Assim sendo, restar-me-iam três possibilidades: um navegador/descobridor e dois poetas, sendo que o primeiro, Vasco da Gama, seria riscado logo à partida pois que não nos pedem que votemos apenas na obra mas sim no homem, e as não muitas informações que até nós chegaram não o retratam como sendo alguém particularmente recomendável. Logo, a minha escolha ficaria resumida a dois.

De entre estes, por tudo o que foi, pensou e fez… sem dúvidas de espécie alguma: Fernando Pessoa.

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Um site



Cliquem no rectangulo azul.
É um site a não perder e a juntar aos favoritos num lugar muito especial!


;)

[O rectangulo azul passa a residir ali ao lado ------>