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Tenho assistido muito de perto a uma daquelas histórias verdadeiras que não deviam existir.
Alguém, após termo do mandato do anterior chefe, foi designado para o suceder. Essa pessoa não tinha qualificações nem perfil de chefia, apenas foi nomeado por ser o mais antigo técnico do departamento em questão (algo que acontece amiúde nos organismos de estado).
Após a tomada de posse um bafejo de “democracia” invadiu o departamento. Como exemplo posso dizer que decisões, importantes ou não, passaram a ser tomadas por maioria em reuniões de todo o pessoal. Mesmo nas mais técnicas, tanto peso tinha o voto dum técnico qualificado como o dum funcionário administrativo que não tinha, porque não podia ter, a mínima ideia do que se ia decidir.
Claro que problemas começaram a dar-se e foram tantos e tão graves, que (imagino eu) alguém lhe deverá ter chamado à atenção para o descalabro que se anunciava. Arrepiou caminho e, em vez de todos os funcionários, passou a haver um restrito grupo técnico a tomar as decisões por ele.
Por falar em decisões, devo dizer que este indivíduo, talvez por sentir a sua intrínseca fragilidade e seguramente por recalcamentos e frustrações nunca ultrapassadas, deu início a uma guerra surda, muda e traiçoeira com dois funcionários da sua dependência. Porque estes eram maus profissionais? Não. Por motivos única e exclusivamente pessoais.
Se em qualquer caso é incorrecto que se misturem problemas pessoais com relações de trabalho, pior ainda não o fazendo abertamente, às claras, no frente-a-frente. Porque não chamar as pessoas à parte e dizer-lhes abertamente que não se sente bem em trabalhar com elas e aconselhá-las a procurar outra colocação? Embora até certo ponto questionável, esta atitude seria muito mais compreensível do que outra qualquer. Mas não foi isto que aconteceu. O referido chefe não só é demasiado cobarde para enfrentar alguém cara a cara, como, tendo pela primeira vez ao seu dispor instrumentos que lhe permitiam tornar num inferno a existência daquelas pessoas, decidiu fazê-lo.
Num dos casos o tiro saiu-lhe pela culatra pois que o funcionário em questão, estando à beira da reforma, conseguiu antecipá-la e disse-lhe adeus, até nunca. Quanto ao outro, esse não teve tanta sorte.
O tratamento começou duma forma discreta. Subtilmente foi sentindo que lhe estava a ser retirado trabalho mas, quando perguntava as razões, eram-lhe sempre apresentadas justificações altivas: estava a ser guardado para mais importantes e construtivas tarefas.
O tempo foi passando e, não só essas tarefas nunca apareceram (não obstante o funcionário as ter insistentemente procurado) como todas as restantes funções lhe foram, por fim, retiradas.
Confesso eu, eu que aqui escrevo este post, que por vezes a minha mente é rondada por pensamentos e estratégias perversas mas, mesmo assim vos digo, que nem nos meus devaneios mais insanos me tinha lembrado de torturar alguém fazendo com que essa pessoa não fizesse… nada!
A partir de determinada altura o funcionário ia todos os dias para o emprego e lá permanecia sete horas, sentado, olhando para o nada, fazendo nada e enlouquecendo aos poucos. E o seu estado anímico e psicológico foi-se deteriorando. Acordar de manhã, num dia de semana, começou a ser um pesadelo. Este mau estar, esta disfuncionalidade, este estado de desequilíbrio foi aumentando até ao dia em que, estando numa conversa com um grupo de pessoas do qual fazia parte o seu chefe, e, deparando-se uma vez mais com o cinismo e hipocrisia deste, sentiu em si uma vontade imensa de o esbofetear, esmurrar, pontapear…
Um sinal de alarme tocou dentro de si: se o fizesse, no instante em que o fizesse, perderia tudo. Por motivos óbvios não se poderia dar ao luxo de tal acontecer. Então, naquele mesmo instante, tomou a única decisão que lhe restava: ir ter com um psiquiatra, contar-lhe o que se estava a passar e entrar de baixa. Foi o que lhe restou para se preservar, para que a sua saúde física e mental não resvalasse para estados perigosos – para não endoidecer.
Entre baixas, voltas momentâneas ao emprego e férias, quase dois anos se passaram.
A meio de Dezembro de 2006, mais uma vez, voltou. Não se espantou muito ao ver que o seu posto de trabalho, o computador que utilizava, tivesse desaparecido. Passou a andar pelos corredores, aos caídos, vagueando. Por vezes um colega deixa-o utilizar o seu PC. Dá umas voltas pela net para se distrair um pouco e volta ao mesmo.
Sente que a próxima baixa não irá poder tardar muito, e, ao contrário de outros, anseia pelos excedentes como forma de conseguir outra colocação.
Esta história não tem final feliz. Algum dia terá?
Alguém, após termo do mandato do anterior chefe, foi designado para o suceder. Essa pessoa não tinha qualificações nem perfil de chefia, apenas foi nomeado por ser o mais antigo técnico do departamento em questão (algo que acontece amiúde nos organismos de estado).
Após a tomada de posse um bafejo de “democracia” invadiu o departamento. Como exemplo posso dizer que decisões, importantes ou não, passaram a ser tomadas por maioria em reuniões de todo o pessoal. Mesmo nas mais técnicas, tanto peso tinha o voto dum técnico qualificado como o dum funcionário administrativo que não tinha, porque não podia ter, a mínima ideia do que se ia decidir.
Claro que problemas começaram a dar-se e foram tantos e tão graves, que (imagino eu) alguém lhe deverá ter chamado à atenção para o descalabro que se anunciava. Arrepiou caminho e, em vez de todos os funcionários, passou a haver um restrito grupo técnico a tomar as decisões por ele.
Por falar em decisões, devo dizer que este indivíduo, talvez por sentir a sua intrínseca fragilidade e seguramente por recalcamentos e frustrações nunca ultrapassadas, deu início a uma guerra surda, muda e traiçoeira com dois funcionários da sua dependência. Porque estes eram maus profissionais? Não. Por motivos única e exclusivamente pessoais.
Se em qualquer caso é incorrecto que se misturem problemas pessoais com relações de trabalho, pior ainda não o fazendo abertamente, às claras, no frente-a-frente. Porque não chamar as pessoas à parte e dizer-lhes abertamente que não se sente bem em trabalhar com elas e aconselhá-las a procurar outra colocação? Embora até certo ponto questionável, esta atitude seria muito mais compreensível do que outra qualquer. Mas não foi isto que aconteceu. O referido chefe não só é demasiado cobarde para enfrentar alguém cara a cara, como, tendo pela primeira vez ao seu dispor instrumentos que lhe permitiam tornar num inferno a existência daquelas pessoas, decidiu fazê-lo.
Num dos casos o tiro saiu-lhe pela culatra pois que o funcionário em questão, estando à beira da reforma, conseguiu antecipá-la e disse-lhe adeus, até nunca. Quanto ao outro, esse não teve tanta sorte.
O tratamento começou duma forma discreta. Subtilmente foi sentindo que lhe estava a ser retirado trabalho mas, quando perguntava as razões, eram-lhe sempre apresentadas justificações altivas: estava a ser guardado para mais importantes e construtivas tarefas.
O tempo foi passando e, não só essas tarefas nunca apareceram (não obstante o funcionário as ter insistentemente procurado) como todas as restantes funções lhe foram, por fim, retiradas.
Confesso eu, eu que aqui escrevo este post, que por vezes a minha mente é rondada por pensamentos e estratégias perversas mas, mesmo assim vos digo, que nem nos meus devaneios mais insanos me tinha lembrado de torturar alguém fazendo com que essa pessoa não fizesse… nada!
A partir de determinada altura o funcionário ia todos os dias para o emprego e lá permanecia sete horas, sentado, olhando para o nada, fazendo nada e enlouquecendo aos poucos. E o seu estado anímico e psicológico foi-se deteriorando. Acordar de manhã, num dia de semana, começou a ser um pesadelo. Este mau estar, esta disfuncionalidade, este estado de desequilíbrio foi aumentando até ao dia em que, estando numa conversa com um grupo de pessoas do qual fazia parte o seu chefe, e, deparando-se uma vez mais com o cinismo e hipocrisia deste, sentiu em si uma vontade imensa de o esbofetear, esmurrar, pontapear…
Um sinal de alarme tocou dentro de si: se o fizesse, no instante em que o fizesse, perderia tudo. Por motivos óbvios não se poderia dar ao luxo de tal acontecer. Então, naquele mesmo instante, tomou a única decisão que lhe restava: ir ter com um psiquiatra, contar-lhe o que se estava a passar e entrar de baixa. Foi o que lhe restou para se preservar, para que a sua saúde física e mental não resvalasse para estados perigosos – para não endoidecer.
Entre baixas, voltas momentâneas ao emprego e férias, quase dois anos se passaram.
A meio de Dezembro de 2006, mais uma vez, voltou. Não se espantou muito ao ver que o seu posto de trabalho, o computador que utilizava, tivesse desaparecido. Passou a andar pelos corredores, aos caídos, vagueando. Por vezes um colega deixa-o utilizar o seu PC. Dá umas voltas pela net para se distrair um pouco e volta ao mesmo.
Sente que a próxima baixa não irá poder tardar muito, e, ao contrário de outros, anseia pelos excedentes como forma de conseguir outra colocação.
Esta história não tem final feliz. Algum dia terá?