O maior português
Ontem liguei a TV num canal generalista (coisa que já não fazia há algum tempo) e dei de caras com a Maria Elisa e o “seu” melhor português.
Vi a lista dos 10 mais e confesso que não tive grandes surpresas. Talvez a menos esperada presença tenha sido a de Aristides de Sousa Mendes e, quase que por contraponto, a ausência de Eusébio. De resto tudo normal. Tudo normal em Portugal.
Há um estudo recente feito por uma equipa de sociólogos, historiadores e psico-antropólogos onde se revela que os efeitos directos e colaterais do 11 de Setembro demorarão pelo menos 150 anos a desaparecerem.
A pergunta que ontem me veio à cabeça foi esta: neste nosso país quanto tempo demorará a desvanecer-se tudo quanto de mal nos fez António Salazar?
Se, como disse antes, a sua presença no top não me surpreende, também é um facto que não deixa de me entristecer. Continuamos a ser pequeninos tal como ele quis. Tão pequeninos que o elegemos como um dos mais num país que tem 900 anos de existência. A mediocridade, o “pensar pequeno”, está entranhado em nós e manifesta-se em coisas tão simples como esta: quando a vida no e do país não corre como esperávamos, como ansiávamos, em vez de tentar fazer algo para que mudanças aconteçam, viramo-nos para a memória de alguém que nos desgraçou durante 48 anos. Porquê? Talvez apenas porque Salazar é um ícone da autoridade e nas nossas pequenas cabeças, todos os problemas se resolvem com ela. Ou talvez porque ansiamos por alguém que nos diga (que nos mande!) o que fazer. Na sua tacanhez, Salazar foi esperto. Soube ler o país que tinha e, consciente ou inconscientemente, agarrar nas piores características deste povo e usá-las para os fins que eram os dele.
A história universal está repleta de ditadores. E se houve bárbaros, facínoras, indivíduos que chacinaram os seus próprios povos, houve um, na Península Ibérica, em Portugal, que não precisou de nada disso. Tenhamos a PIDE por exemplo: como polícia política dum regime ditatorial, comparada com outras que existiram foi tão branda nos seus costumes quanto brandos nos tornou Salazar. Assim reinou, encolhendo-nos, tornando-nos mansinhos, mais ainda do que tendencialmente já éramos. E, pelos vistos, continuará a reinar por muitos e muitos anos.
Não me espanta que Salazar seja eleito como o maior português de sempre. Não me espanta que os mesmos votantes voltem a intervir e que o voto dos restantes se disperse pelos que restam. Enfim, a capacidade de mobilização do PCP não deixa de me surpreender – a presença de Álvaro Cunhal nesta lista assim o atesta, porque se a militância não tivesse sido critério, se por acaso se tratasse unicamente dum voto anti Salazarista, creio que faria muito mais sentido aparecer entre os eleitos alguém como Humberto Delgado – mas mesmo assim, mesmo com o PCP e os comunistas militantes a pegar no telefone e carregarem o seu símbolo de votos, creio que não chegará para destronar aquele que mais detestam. Já agora, repare-se que não deixa de ser curioso que, visto por um determinado prisma, o voto em Cunhal também é um voto em Salazar!
Já agora…
Não sei se votarei. Este tipo de coisas tem a importância que lhe quisermos dar e nenhuma mais. De qualquer forma, se votasse nunca votaria num político ou estadista. Sou, por assim dizer, alérgico ao poder. Assim sendo, restar-me-iam três possibilidades: um navegador/descobridor e dois poetas, sendo que o primeiro, Vasco da Gama, seria riscado logo à partida pois que não nos pedem que votemos apenas na obra mas sim no homem, e as não muitas informações que até nós chegaram não o retratam como sendo alguém particularmente recomendável. Logo, a minha escolha ficaria resumida a dois.
De entre estes, por tudo o que foi, pensou e fez… sem dúvidas de espécie alguma: Fernando Pessoa.
Vi a lista dos 10 mais e confesso que não tive grandes surpresas. Talvez a menos esperada presença tenha sido a de Aristides de Sousa Mendes e, quase que por contraponto, a ausência de Eusébio. De resto tudo normal. Tudo normal em Portugal.
Há um estudo recente feito por uma equipa de sociólogos, historiadores e psico-antropólogos onde se revela que os efeitos directos e colaterais do 11 de Setembro demorarão pelo menos 150 anos a desaparecerem.
A pergunta que ontem me veio à cabeça foi esta: neste nosso país quanto tempo demorará a desvanecer-se tudo quanto de mal nos fez António Salazar?
Se, como disse antes, a sua presença no top não me surpreende, também é um facto que não deixa de me entristecer. Continuamos a ser pequeninos tal como ele quis. Tão pequeninos que o elegemos como um dos mais num país que tem 900 anos de existência. A mediocridade, o “pensar pequeno”, está entranhado em nós e manifesta-se em coisas tão simples como esta: quando a vida no e do país não corre como esperávamos, como ansiávamos, em vez de tentar fazer algo para que mudanças aconteçam, viramo-nos para a memória de alguém que nos desgraçou durante 48 anos. Porquê? Talvez apenas porque Salazar é um ícone da autoridade e nas nossas pequenas cabeças, todos os problemas se resolvem com ela. Ou talvez porque ansiamos por alguém que nos diga (que nos mande!) o que fazer. Na sua tacanhez, Salazar foi esperto. Soube ler o país que tinha e, consciente ou inconscientemente, agarrar nas piores características deste povo e usá-las para os fins que eram os dele.
A história universal está repleta de ditadores. E se houve bárbaros, facínoras, indivíduos que chacinaram os seus próprios povos, houve um, na Península Ibérica, em Portugal, que não precisou de nada disso. Tenhamos a PIDE por exemplo: como polícia política dum regime ditatorial, comparada com outras que existiram foi tão branda nos seus costumes quanto brandos nos tornou Salazar. Assim reinou, encolhendo-nos, tornando-nos mansinhos, mais ainda do que tendencialmente já éramos. E, pelos vistos, continuará a reinar por muitos e muitos anos.
Não me espanta que Salazar seja eleito como o maior português de sempre. Não me espanta que os mesmos votantes voltem a intervir e que o voto dos restantes se disperse pelos que restam. Enfim, a capacidade de mobilização do PCP não deixa de me surpreender – a presença de Álvaro Cunhal nesta lista assim o atesta, porque se a militância não tivesse sido critério, se por acaso se tratasse unicamente dum voto anti Salazarista, creio que faria muito mais sentido aparecer entre os eleitos alguém como Humberto Delgado – mas mesmo assim, mesmo com o PCP e os comunistas militantes a pegar no telefone e carregarem o seu símbolo de votos, creio que não chegará para destronar aquele que mais detestam. Já agora, repare-se que não deixa de ser curioso que, visto por um determinado prisma, o voto em Cunhal também é um voto em Salazar!
Já agora…
Não sei se votarei. Este tipo de coisas tem a importância que lhe quisermos dar e nenhuma mais. De qualquer forma, se votasse nunca votaria num político ou estadista. Sou, por assim dizer, alérgico ao poder. Assim sendo, restar-me-iam três possibilidades: um navegador/descobridor e dois poetas, sendo que o primeiro, Vasco da Gama, seria riscado logo à partida pois que não nos pedem que votemos apenas na obra mas sim no homem, e as não muitas informações que até nós chegaram não o retratam como sendo alguém particularmente recomendável. Logo, a minha escolha ficaria resumida a dois.
De entre estes, por tudo o que foi, pensou e fez… sem dúvidas de espécie alguma: Fernando Pessoa.
2 Comments:
Para mim, só este conceito de «o maior português» causa-me arrepios... O «maior português» será sempre aquele que, todos os meses, faz uma grande ginástica mensal para pagar os impostos, alimentar os filhos e não ficar a dever dinheiro a ninguém... :-|
Queria dizer «ginástica orçamental» e não «ginástica mensal»... :-) Lapsos típicos da blogosfera!
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