Neste momento
Tenho 45 anos.
Quem vê por fora diz que pareço menos; quem vê por dentro diz o mesmo. A mim parecem-me 145.
Tem tudo a ver com desencanto. Com sentir um nada-de-novo constante, um dèjá vu permanente. Há bastante tempo que ando em círculos, uma espiral que nem desce nem sobe.
Não estou a mandar as culpas para o mundo; ele tem costas largas mas não me serve de nada carregá-lo, culpando-o pelo meu estado semi-vegetativo. De facto, de fora não tem vindo nada de original, nem ideias nem pessoas nem pessoas com ideias mas isto não me dá o direito de culpá-las por ser assim. Quem me diz a mim que não serei eu que cheguei ao meu limite, que não sou capaz de ver mais?
De qualquer forma esta é uma dúvida que não me atormenta. É indiferente. O que sei, o que acuso em mim, é talvez ter vivido depressa demais, intensamente, a 200 à hora quer quando me virava para fora quer interiormente e ter chegado agora a um ponto em que seria suposto eu morrer. Pois se o que me resta é circular novamente, num giro que me trás sempre onde estava… o que falta mais? Para mim, nada.
E não, não me sinto depressivo nem nada que se pareça; pelo contrário, a ideia de morrer traz-me uma paz, a tranquilidade que se sente quando nos deitamos cansados e o sono começa a chegar.
E também não, não acredito em vida depois da morte. Sou um descrente profissional. Para mim, a vida só faz sentido havendo morte e esta terá de ser “a sério”, terá de ser um ponto final numa existência. E isto… atrai-me tanto!
Assim sendo, se não fosse qualquer coisa muito especial de que falarei à frente, restar-me-iam duas alternativas: que o meu corpo tivesse acompanhado a estagnação da minha mente – o que não aconteceu uma vez que tenho saúde de ferro – ou o suicídio. E esta é outra ideia que me agrada sobremaneira. Que me atrai, que me fascina! Não tem volta, é certo, mas eu não quero voltar!
Voltar para quê? Para um emprego de que não gosto? Para a constante luta pela sobrevivência? Pelo confortozinho da TV ou do frigorífico novo que faz tudo? Ou do juntar dinheiro para as férias? De tudo isto estou farto, cansado.
Num outro patamar, voltar pelo amor? Quase de certeza não voltarei a ter nada parecido com o que tive. O maior que vivi foi de tal forma intenso… tão poderoso que dificilmente voltará a acontecer. De resto, sexo avulso ou na melhor das hipóteses, amores ligeiros?
Nas artes e nas filosofias: continuo a achar piada às maneiras novas que se arranjam para dizer coisas velhas. Mas, apenas isso.
Ok, concedo que haja uma coisa: nunca fui rico. Isto é, podre de rico! Só que, não só não quero fazer disso objectivo de vida como também pesa o facto de, para me tornar milionário, ou me saía um daqueles grandes jackpots, ou assaltava um banco (ou vários) ou teria de enveredar por negócios onde para se ter êxito, forçosamente se tem de enganar, iludir e até trair. Fora de questão.
Sobre a do árabe: já plantei uma árvore, escrevi um livro e tive uma filha. Está cumprida a minha parte.
Mas é aqui que há a tal “pequena” coisa que impede a minha vida de dar o seu próximo e lógico passo, ou seja, morrer. Não posso. Quer por dever, quer sobretudo por amor eu tenho de cá estar enquanto o meu corpo me deixar estar. Há um ser (maravilhoso, por sinal) que nasceu de mim e cabe-me acompanhá-lo em tudo o que puder; segurá-la antes de cair, se tal me for possível ou antever as quedas tudo fazendo para que elas não aconteçam; dar-lhe tudo o que sei para que tenha defesas no enfrentar a vida que irá ter e que não será fácil (talvez que os únicos a ter vidas fáceis sejam aqueles que não vivam…) e pôr nela todo o carinho que existe em mim transformado seja em abraços, beijos ou num simples dar a mão – este é o meu papel no mundo, hoje.
Deve ser realçado que sentindo-me eu tão em paz e determinado à não-existência seja o Amor que me mantenha a existência.
…
Quem vê por fora diz que pareço menos; quem vê por dentro diz o mesmo. A mim parecem-me 145.
Tem tudo a ver com desencanto. Com sentir um nada-de-novo constante, um dèjá vu permanente. Há bastante tempo que ando em círculos, uma espiral que nem desce nem sobe.
Não estou a mandar as culpas para o mundo; ele tem costas largas mas não me serve de nada carregá-lo, culpando-o pelo meu estado semi-vegetativo. De facto, de fora não tem vindo nada de original, nem ideias nem pessoas nem pessoas com ideias mas isto não me dá o direito de culpá-las por ser assim. Quem me diz a mim que não serei eu que cheguei ao meu limite, que não sou capaz de ver mais?
De qualquer forma esta é uma dúvida que não me atormenta. É indiferente. O que sei, o que acuso em mim, é talvez ter vivido depressa demais, intensamente, a 200 à hora quer quando me virava para fora quer interiormente e ter chegado agora a um ponto em que seria suposto eu morrer. Pois se o que me resta é circular novamente, num giro que me trás sempre onde estava… o que falta mais? Para mim, nada.
E não, não me sinto depressivo nem nada que se pareça; pelo contrário, a ideia de morrer traz-me uma paz, a tranquilidade que se sente quando nos deitamos cansados e o sono começa a chegar.
E também não, não acredito em vida depois da morte. Sou um descrente profissional. Para mim, a vida só faz sentido havendo morte e esta terá de ser “a sério”, terá de ser um ponto final numa existência. E isto… atrai-me tanto!
Assim sendo, se não fosse qualquer coisa muito especial de que falarei à frente, restar-me-iam duas alternativas: que o meu corpo tivesse acompanhado a estagnação da minha mente – o que não aconteceu uma vez que tenho saúde de ferro – ou o suicídio. E esta é outra ideia que me agrada sobremaneira. Que me atrai, que me fascina! Não tem volta, é certo, mas eu não quero voltar!
Voltar para quê? Para um emprego de que não gosto? Para a constante luta pela sobrevivência? Pelo confortozinho da TV ou do frigorífico novo que faz tudo? Ou do juntar dinheiro para as férias? De tudo isto estou farto, cansado.
Num outro patamar, voltar pelo amor? Quase de certeza não voltarei a ter nada parecido com o que tive. O maior que vivi foi de tal forma intenso… tão poderoso que dificilmente voltará a acontecer. De resto, sexo avulso ou na melhor das hipóteses, amores ligeiros?
Nas artes e nas filosofias: continuo a achar piada às maneiras novas que se arranjam para dizer coisas velhas. Mas, apenas isso.
Ok, concedo que haja uma coisa: nunca fui rico. Isto é, podre de rico! Só que, não só não quero fazer disso objectivo de vida como também pesa o facto de, para me tornar milionário, ou me saía um daqueles grandes jackpots, ou assaltava um banco (ou vários) ou teria de enveredar por negócios onde para se ter êxito, forçosamente se tem de enganar, iludir e até trair. Fora de questão.
Sobre a do árabe: já plantei uma árvore, escrevi um livro e tive uma filha. Está cumprida a minha parte.
Mas é aqui que há a tal “pequena” coisa que impede a minha vida de dar o seu próximo e lógico passo, ou seja, morrer. Não posso. Quer por dever, quer sobretudo por amor eu tenho de cá estar enquanto o meu corpo me deixar estar. Há um ser (maravilhoso, por sinal) que nasceu de mim e cabe-me acompanhá-lo em tudo o que puder; segurá-la antes de cair, se tal me for possível ou antever as quedas tudo fazendo para que elas não aconteçam; dar-lhe tudo o que sei para que tenha defesas no enfrentar a vida que irá ter e que não será fácil (talvez que os únicos a ter vidas fáceis sejam aqueles que não vivam…) e pôr nela todo o carinho que existe em mim transformado seja em abraços, beijos ou num simples dar a mão – este é o meu papel no mundo, hoje.
Deve ser realçado que sentindo-me eu tão em paz e determinado à não-existência seja o Amor que me mantenha a existência.
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16 Comments:
Um texto impressionante... és um tolo. Descontrai...abre os olhos...vive...vive!!!! :))))))
Uma sugestão: faz uma viagem! (que é como quem diz: alarga o teu horizonte)
sabes o que acho? acho que podemos sempre começar de novo...começar algo de novo é começar...nunca recomeçar...porque nunca me pareceu que recomeçar algo fizesse muito sentido...se terminou em algum momento é porque não fazia sentido continuar...
quanto a ti...acho que estás bem a tempo de começar algo de novo...seja o que for...como também acho que tens a sorte de continuar a ter algo que começaste faz tempo...o teu bem mais precioso, que nunca acabou...que saiu de ti :)
ser desistente é falhar...as oportunidades vão surgindo...só tens de as saber aproveitar...desejo-te sorte :) beijinho (li o conto...umas das melhores histórias que li nos últimos tempos)
Todos temos dias assim,pessimistas.
Por sorte duram pouco.
Venho compartilhar contigo esse desencanto e amargura que adivinho.
Acho que dividido por dois é mais fácil, embora eu tenha ultrapassado essa fase.
O ano passado, foi para mim, um ano "inesquecível" no pior dos sentidos, com perdas irreparáveis. Sobrevivi! Cá estou, a aguentar...
Um grande beijo
Talvez não saibas, mas sou a Stillforty. Já não a Outra Face do Espelho, mas A Rapariga que Se Apaixonou pelo Amor, e o meu nome é Teresa
espantosamente belo o teu testemunho, nesta vida por que passamos. penso como tu, ou quase, digamos. o que te atrai, atrai-me a mim, igualmente. mas há que viver por amor, para amparar os passinhos de alguém...
um beijo cheio de ternura:)
belo texto, apesar de depressivo, triste, só, desiludido... mas tudo isso são fases..as tais em circulo, onde caímos no umbigo de dele não saimos, sem um empurrão...de qq modo tu o dizes, tens algo que te prende, que amas, que queres bem....ora cá está a razão da vida, o amor pelos outros, neste caso em particular pela tua filha....
na vida nada se repete, tudo é diferente...começa por tentares não fazer comparações...vive...
grita se fôr preciso, mas vive por ti....e .............força
jocas maradas de tempo
Boa noite Footprints,
Acredita que não estás sozinho, ha muita gente a sentir-se assim..que sobrevive, não vive..agarra-te a esse amor que tens na tua vida (da tua filha) e melhores dias virão..
No fundo Footprints, todos nós temos razão para sorrir qdo temos saúde
Viver é absolutamente impressionante. Mais ou menos feliz, mais ou menos realizada, o milagre diário da vida tira-me o fôlego, tira-me o sono, deixa-me maravilhada. Por mim. Apenas por mim. Viver em nome de terceiros... não lhe chamo viver.
Esse um momento, uma fase, uma lambidela numa página amarga do pó de um destino que se anuncia presente, apenas por projecções passadas... Se é forte? É… Porque é Só! (e a solidão é forte? Ah pois, e nós somos fracos).
… Tão triste quanto a vida o é por vezes, mas feliz ´cos (…) salvation lets their wings unfold (*), vem de dentro e tu tens interior (creio que alguns de nós o têm, mas aqui interessas tu!). É “isto” um dia, um olhar, um sublinhar da emoção contra o correr do tempo, um alerta, uma zanga que não consegue sê-lo, um ficar igual depois de escrito e manifesto (e mto bem manifesto), mas um igual diferente, denunciado… Um hino, genuíno, a uma voz mas com mil coros.
Num segundo, temos o peso de todo o tempo, e contudo tão pouco tempo para o descansar; e o mais ardiloso, é que ele varia justamente com a noção de felicidade que temos. Por isso, eu não poderia não gostar de te ver a falar “assim” (!), inconfessadamente depressivo, num dia destes. Que venham outros… Mas “daqueles”!
(*) Angels, Robbie Williams (eu sabe que tu num gota). E uma homenagem mais a essa tua (anja) "doidinha":-)
Ola Foot!!!!
Vou transcrever um postal que a minha filha mais velha me deu no ano passado no dia da mae, cheio de coracoes.
" Eu gosto muito, muito da minha mae porque ela se preocupa comigo e da-me muito carinho. Eu amo a minha mae duma forma diferente como eu gosto das minhas amigas. A coisa que mais amo no mundo sao os meus pais e a minha irmazinha. Mae es a coisa mais preciosa de todo os tempo. Eu nao vou deixar que ninguem te magoe."
Tenho este postal colado na parede do meu emprego e todos os dias o leio... Podendo estar a ser egoista as minhas filhas sao o meu alimento para lutar com contratempos da vida....
Força Footprints e nao te esqueças que nao há bem que dure nem mal que perdure!
Um abraço mt grande para ti.... ainda nao me esqueci de ti e de vez enquando venho ler-te :-)))
Ninde.... a elfa
Olá, Footprints, em 1º vinha apenas agradecer a tua visita. Quando a vida perde o sentido por muitos sentidos que se achem... temos de fazer tudo para agarrar a vida novamente, é o que eu faço, por isso sou legionária. Apenas luto. um beijo
pois! ... e não ter um ser pequenino para acompanhar, ver os passos, sorrir, chorar; para amparar...amar... que razão tenho para estar aqui? - nenhuma! A viagem está temporariamente adiada porque a matriarca da família está muito doente e seria devastador para todos, e quem ama deseja a felicidade dos que ama (este tem sido o meu valium, há mais de 30 anos)...doi não ter reciprocidade...
who cares????
Fiquei amuada, e aproveitei para recordar alguns posts teus antigos. Encontrei este, do tempo em que eu não tinha blog e assinava "mana". Eheheh, tempus fugit (e o Natal já foi há meio ano!)
B*
não seio como vim aki....MAS PERCEBO-TE...UM BFS
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