Ainda e sempre, Million Dollar Baby
O que são as nossas vidas senão uma súmula de todas as nossas decisões?
Nunca deixei de achar piada àquelas pessoas que estão constantemente dispostas ao tudo ou nada. E têm alguma graça por dois motivos: primeiro porque quase sempre o nada não é verdadeiramente nada. É uma forma (enganosa) de dizerem que algo é (apenas!) de difícil escolha.
Na verdade, nada é nada! Não é mais nada.
A segunda, deriva desta. Ou seja, sabendo à partida que mesmo que nos saia aquele “nada” ainda ficamos de pé, então ‘bora lá nessa! Pois se até pode ser que nos saia o tudo!
Assim… é fácil.
Ou, pelo menos, não é tão difícil. Não é esmagador.
É claro que decisões deste calibre, as do tudo ou real nada, não se nos deparam todos os dias. Ninguém, penso, seria humanamente capaz de suportar tal fardo. Mas há as outras. As outras que não são, ou que parecem nunca ser determinantes, mas que se pensarmos bem, e como disse acima, nos fazem ser o que somos hoje. Agora.
E quantos de nós podem ter a presunção de dizer que não têm Frankies dentro de si? Ou seja, quem honestamente, consegue afirmar que não foge, que fica e que está, que não adia? Uns mais e outros menos, nós somos, não apenas aquilo que decidimos, como também (ou deverei dizer sobretudo?) aquilo que não arriscamos.
E assim vamos andando. Vivendo? É uma vida, certamente. Mas será que se um dia nos for dada a possibilidade de fazermos um balanço, de olharmos para o que (não) fizemos… será que não ficaremos com um certo travo amargo... com lembranças nostálgicas daquilo que não fomos capazes?
Tudo isto é relativo. Pode-se sempre argumentar que a não-decisão, o não arriscar, tenha sido o melhor que poderíamos ter feito. No entanto, se é assim, então será legítimo esperar que caminhemos menos amargurados nos trilhos que se seguirão.
É compreensível que se pense assim? Confesso que não sei. É tramado. Mesmo muito tramado!
Julgo que sei apenas duas coisas. Uma: adiar não. Adiar não adianta. Evitar o confronto é convidar fantasmas a viverem em nós. E a outra: duvidar duma forma crua da honestidade intelectual de quem diz que não lamenta nada.
Frankie não o diz. Não poderia dizê-lo. Mas vive arruinado pelos seus fantasmas. E no filme, tal como tantas vezes na vida, é a estas pessoas a quem vai ser pedido o impensável. Felizmente ele fá-lo. Por uma vez na vida ele assume e assume-se. Ele não pode voltar as costas. Desta vez está amarrado: ama a pessoa em causa.
- Ironia que seja por amor.
- Ironia que seja devido ao amor que faça o “tudo” que lhe é pedido pela pessoa que ama deixando ficar para si o nada. Ainda menos do que nada.
- Ironia que, tal como o descreve Scrap, os fantasmas que em si habitavam e consumiam devido à sua não assunção a partir daí tomem conta dele e o façam desaparecer até não restar mais que uma imagem indefinida.
A última vez que o vemos é através dum vidro. Um vidro fosco que nos impossibilita uma visão clara. Nem há hipótese de a ter. Ele já não existe.
Queiramos e possamos nós ter as forças necessárias para que, se alguma vez formos confrontados com decisões extremas tenhamos a bênção de sobreviver àquilo escolhermos.
O outro dizia, e bem, que amar é fodido. Viver, que também é amar, é mesmo fodido.
Num aparte final, e para que isto não fique (embora o deva ser) tão pesado, não queria deixar uma nota da felicidade que é encontrarmos alguém que nos complementa; que tem aquilo que nós não temos e, por contraponto, que não tem o que temos. Daí o complemento.
E daí os rostos, aos poucos, deixarem de ser fechados e os sorrisos nascerem.
Mo Cuishle
Nunca deixei de achar piada àquelas pessoas que estão constantemente dispostas ao tudo ou nada. E têm alguma graça por dois motivos: primeiro porque quase sempre o nada não é verdadeiramente nada. É uma forma (enganosa) de dizerem que algo é (apenas!) de difícil escolha.
Na verdade, nada é nada! Não é mais nada.
A segunda, deriva desta. Ou seja, sabendo à partida que mesmo que nos saia aquele “nada” ainda ficamos de pé, então ‘bora lá nessa! Pois se até pode ser que nos saia o tudo!
Assim… é fácil.
Ou, pelo menos, não é tão difícil. Não é esmagador.
É claro que decisões deste calibre, as do tudo ou real nada, não se nos deparam todos os dias. Ninguém, penso, seria humanamente capaz de suportar tal fardo. Mas há as outras. As outras que não são, ou que parecem nunca ser determinantes, mas que se pensarmos bem, e como disse acima, nos fazem ser o que somos hoje. Agora.
E quantos de nós podem ter a presunção de dizer que não têm Frankies dentro de si? Ou seja, quem honestamente, consegue afirmar que não foge, que fica e que está, que não adia? Uns mais e outros menos, nós somos, não apenas aquilo que decidimos, como também (ou deverei dizer sobretudo?) aquilo que não arriscamos.
E assim vamos andando. Vivendo? É uma vida, certamente. Mas será que se um dia nos for dada a possibilidade de fazermos um balanço, de olharmos para o que (não) fizemos… será que não ficaremos com um certo travo amargo... com lembranças nostálgicas daquilo que não fomos capazes?
Tudo isto é relativo. Pode-se sempre argumentar que a não-decisão, o não arriscar, tenha sido o melhor que poderíamos ter feito. No entanto, se é assim, então será legítimo esperar que caminhemos menos amargurados nos trilhos que se seguirão.
É compreensível que se pense assim? Confesso que não sei. É tramado. Mesmo muito tramado!
Julgo que sei apenas duas coisas. Uma: adiar não. Adiar não adianta. Evitar o confronto é convidar fantasmas a viverem em nós. E a outra: duvidar duma forma crua da honestidade intelectual de quem diz que não lamenta nada.
Frankie não o diz. Não poderia dizê-lo. Mas vive arruinado pelos seus fantasmas. E no filme, tal como tantas vezes na vida, é a estas pessoas a quem vai ser pedido o impensável. Felizmente ele fá-lo. Por uma vez na vida ele assume e assume-se. Ele não pode voltar as costas. Desta vez está amarrado: ama a pessoa em causa.
- Ironia que seja por amor.
- Ironia que seja devido ao amor que faça o “tudo” que lhe é pedido pela pessoa que ama deixando ficar para si o nada. Ainda menos do que nada.
- Ironia que, tal como o descreve Scrap, os fantasmas que em si habitavam e consumiam devido à sua não assunção a partir daí tomem conta dele e o façam desaparecer até não restar mais que uma imagem indefinida.
A última vez que o vemos é através dum vidro. Um vidro fosco que nos impossibilita uma visão clara. Nem há hipótese de a ter. Ele já não existe.
Queiramos e possamos nós ter as forças necessárias para que, se alguma vez formos confrontados com decisões extremas tenhamos a bênção de sobreviver àquilo escolhermos.
O outro dizia, e bem, que amar é fodido. Viver, que também é amar, é mesmo fodido.
Num aparte final, e para que isto não fique (embora o deva ser) tão pesado, não queria deixar uma nota da felicidade que é encontrarmos alguém que nos complementa; que tem aquilo que nós não temos e, por contraponto, que não tem o que temos. Daí o complemento.
E daí os rostos, aos poucos, deixarem de ser fechados e os sorrisos nascerem.
Mo Cuishle
2 Comments:
vi o filme este fim-de-semana...depois voltei a este «post» para o ler. Na grande maioria concordo com as tuas «considerações». Se nós algum dia nos iremos «ultrapassar», para além dos nossos limites??? Isso será sempre um «mistério», até sermos confrontados com eles (os nossos limites). Aqui foi o amor que moveu o Frank, mas também poderia ser o ódio, a inveja...enfim uma data de coisas.
Ó Anonymous, porque não assinas? Porque não pôes, nem que seja um nickzito e deixas de ser Anonymous? Vá lá...
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