quarta-feira, dezembro 10, 2003

O primeiro dia de vida normal


Episódio 1: o despertar

Fiquei a saber que os Nokia, na função despertar, vão aumentando de volume até ao ponto de, presumo eu, o morto atender. Foi o que aconteceu: acordei!
Depois, consegui levantar-me sem cair: vitória!
A seguir a cozinha (comer é a primeira coisa que tenho de fazer assim que acordo; é uma necessidade extrema.) Tirei o tabuleiro que estava em cima da torradeira, – tive de a usar pois só tinha pão duro em casa - e coloquei-o em cima do lava-loiças. Quando me voltei para abastecer a torradeira, um pequeno ruído de algo a deslizar fez soar em mim um alerta. Rodei o mais depressa que pude mas… tarde de mais: o tabuleiro tinha ficado mal apoiado e foi progressivamente arrastando o meu maior cinzeiro (que sei eu saber como nem porquê estava na beira da prateleira próxima do lava-loiças) até que este, trás!, estilhaçou-se no chão.
Cacos.
Resolvi, acabar a torrada e comê-la ainda antes de me chatear.
Frigorífico; manteiga; faca para barrar; volta sobre mim próprio; ligeiríssimo desequilibro e um toque ainda menor no outro tabuleiro. Também ele se desequilibrou: catrapumba!
Afastei-me da cozinha para tentar detectar outros eventuais objectos com pouco apoio. Não havia, pareceu-me.
Consegui comer a torrada.
Apanhei cacos. Mais cacos. E mais cacos.

Duche. Sabia-o: a minha bilha de gaz estaria a acabar mais dia menos dia. Como não foi ontem, não foi no menos dia e como não será amanhã, não irá ser no mais dia; foi no dia intermédio: foi no dia. Foi hoje.
Dizem que duches frios são bons para as constipações. O ataque de espirros que tive de seguida assim o atesta.

Quando entrava a horas decentes (leia-se meio-dia ou 1 da tarde), desde o acordar até ao chegar ao emprego, uma hora chegava-me e bastava-me. Calculei que, com mais trânsito fosse demorar mais. Assim, dei mais um quarto de hora de tolerância...
Pergunta nº1: cheguei a tempo?

Na estrada deparei com a altiva boa disposição de quem acorda cedo, pois sempre que tal foi necessário tive algumas dificuldades para mudar de faixa. Usei uma táctica infalível – o chega-pra-lá – e os mal dispostos e mal acordados condutores da madrugada responderam-me falando comigo através da buzina. Respondi-lhes ignorando-os.
Pergunta nº2: se é tão mau acordar cedo e faz tão mal às pessoas, porque insistem em fazê-lo?

Levantei o volume. Tinha trazido música apropriada para a ocasião: 3rd Force. Ritmo californiano. Batida sincopada que ordena ao coração: “bate connosco”! «Uma boa ideia!» - pensei. Mas, tive de me render ao apelo dos meus tímpanos, pois estes não estão de todo habituados a funcionar a horas tão pouco próprias…

Cheguei.

Respostas
Pergunta nº1: não.
Pergunta nº2: não sei. Devem ser loucos.


Episódio 2: o emprego

É mau demais. Não vou perder tempo a escrever sobre algo que, de todo, não faz sentido.
Pergunta: porque raio continuo eu a trabalhar?
Resposta: porque sou parvo.


Episódio 3: a neura

Pergunta: várias linhas em branco chegarão para a descrever e darão ideia de quanto ela me assola e devasta?
Resposta: .........................................................................















estou cansado.