domingo, novembro 30, 2003

Inevitabilidade?

Certo dia houve um grande incêndio na floresta. Os animais, em pânico, fugiram em direcção ao rio; se o atravessassem estariam a salvo.
Um escorpião, tendo chegado à margem e não sabendo nadar pediu a uma rã que o levasse às costas.
– Nem penses! – disse a rã. – Conheço uma história em que aconteceu exactamente o mesmo, o escorpião prometeu à rã que não a picava porque se o fizesse morreriam os dois mas, a meio do caminho o maldito escorpião picou a rã! E enquanto ela estrebuchava com o veneno e ele principiava a afogar-se, justificou-se dizendo que tinha sido impossível fugir à sua natureza. E morreram os dois. Por isso, meu caro, não contes comigo.
– Não, não! – retorquiu o escorpião. – Juro-te que se me levares não o farei. Também conheço essa história mas garanto-te que resistirei e não te picarei com o meu ferrão.
A rã, não estando nada convencida a princípio, aos poucos foi-se deixando persuadir por aquilo que lhe pareceu ser uma imensa e profunda honestidade da parte do escorpião. Acabou por o levar.
Ela nadou, nadou, e atravessaram o rio sem que tivesse havido nenhuma picadela.
Quando chegaram à outra margem a rã disse ao escorpião que, embora tendo concordado em levá-lo devido a ele lhe ter parecido sincero, durante a viagem esteve sempre à espera que, a qualquer momento ele a matasse.
– Como conseguiste aguentar-te sem me picares? – perguntou-lhe a rã.
– Foi muito difícil, rã. Mas quando se quer, quando se tem uma imensa força de vontade, é possível contrariarmos a nossa própria natureza.