O amor racional
Sonha-se durante uma vida inteira e, às tantas, acabamos por perguntar a nós próprios se o que sonhamos não será unicamente isso mesmo: um sonho.
Não sei quando foi que a dúvida nasceu mas sei que ela permaneceu em mim até te conhecer. Sei que não estou apaixonado por ti. Sei que a paixão enquanto cegueira química é algo que não existe dentro de mim em relação a ti. Atracção sim, muita, sem dúvida! Mas não me cega, não me tolda nem os sentidos nem o pensar. Vejo-te tão claramente…
Um dia, há muito tempo, como que por brincadeira pus num papel as características que eu gostaria que a “outra” pessoa tivesse. Já não sei onde pára o tal papel mas lembro-me do que lá estava escrito e sei que tudo o que lá estava se mantém embora se hoje fizesse essa lista tonta haveria mais itens do que na inicial.
Durante anos e anos tentei encontrar alguém assim. Ao fim e ao cabo, esse era o meu sonho.
Não digo que começasse a desesperar mas confesso que havia já algum descrédito em que o sonho não passasse disso mesmo.
E foi então que te conheci.
Conheci-te daquela forma engraçada que tu sabes. E também sabes que a minha primeira impressão a teu respeito não foi… digamos que… não foi nenhuma. Daí para a frente, não fazia eu a mínima ideia do que me esperava: um pasmo cada vez maior e, ao mesmo tempo, um fascínio enorme na constatação daquilo que esse pasmo me causava. E causa.
Não quero aqui listar os atributos, não é essa a minha intenção. Afinal de contas esses mesmos atributos, uns sem os outros não são nada, ou são muito pouco. O todo, a pessoa em si, a pessoa espantosa que eu tive o privilégio de conhecer, essa sim, como dizem os brasileiros, me tirou do sério!
Aqui chegado comecei a ter uma dúvida: – E se estiver eu cego, se estiver a ver apenas aquilo que quero ver sem que me dê conta disso? – pensei. Seria como que tentar materializar o sonho à força. Felizmente, quase que simultaneamente ao aparecimento da dúvida, começaram a acontecer coisas. Comecei a ver em ti características que não faziam parte, de todo!, da mulher que um dia imaginei. Isto foi um alívio! Não que tu te tenhas desfeito qual ídolo de barro. Antes pelo contrário! Revelou-se a tua condição humana e com ela o sonho desfez-se como sonho e materializou-se. ÉS MESMO REAL.
E agora? Estando eu como estou… como é que estou? Calmo. Invadido duma tão grande tranquilidade que me é difícil descrever.
Que sinto eu em relação a ti? Sabes, não me preocupa verbalizar. Mesmo assim, se o tivesse de fazer já o tinha feito. E fi-lo. Fi-lo no título desta coisa.
E agora? Como fica isto? Não direi que tanto faz, é claro que não!, mas… as escolhas respeitam-se mesmo quando nem sequer há escolhas a fazer. Nem sei se é o caso nem nunca procurarei saber. Posto tudo o que já te disse e mais isto que lerás aqui (sem que isto tenha sido escrito frontalmente para ti, é mais uma forma de me ver e ler exposto do que outra coisa), vistas as coisas assim… já está tudo dito.
Soube-me tão bem escrever isto…
Vou acabar agora.
Olá!
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